11 de julho de 2010

breathing room III - antony gormley

Há quem ache um desperdício se enfiar em uma sala escura em um (raro) dia de sol Londrino. Mas quando na tal sala encontra-se o mais recente trabalho do genial Antony Gormley, desperdício é ficar do lado de fora.

Em Breathing Room III, 15 molduras fotoluminescentes se interconectam formando uma espécie de matriz holográfica. O glow suave e azulado que emana da estrutura confunde: em um primeiro momento fica uma dúvida se aquelas linhas são realmente feitas de material sólido ou apenas lasers.

A obra, interativa, convida o público a cuidadosamente explorar aqueles planos. Na medida em que vamos adentrando a escultura, perdemos completamente a noção de profundidade, espaço e distância. De perto, as molduras parecem delimitar estruturas tridimensionais e cada vez que nos aproximamos para atravessar uma delas, a impressão é que há alí uma parede de vidro, que vai nos impedir de passar. Ilusão de ótica da melhor qualidade, a obra emociona, arrepia e dá frio na barriga - fiquei alguns minutos parada alí no meio e, quando me dei conta, estava com um sorriso de orelha a orelha.


Olhar de fora também é bem interessante - as pessoas que transitam dentro da matriz azulada perdem as feições e se tornam avatares negros presos naquele mundo virtual.


Há ainda uma surpresa (bem desagradável, por sinal). Você está lá, todo envolvido naquela atmosfera escura, viajando calmamente nas linhas e planos quando de repente as luzes da sala se acendem, cegando todo mundo por alguns segundos. Segundo Gormley, isso é mesmo pra dar uma sacudida nas pessoas, assusta-las até. Depois que as luzes se apagam novamente, a tinta da uma "recarregada" e a estrutura ressurge muito mais luminosa. É interessante porque nossos olhos têm que se acostumar novamente com a escuridão e, nesse meio tempo, a obra vai ganhando novos ares. As fotos abaixo (tiradas do Guardian) ilustram bem esse processo






Nas palavras do próprio Gormley Breathing Room III é "uma espécie de diagrama em perspectiva onde a perspectiva é destruída pela própria perspectiva". Pra ele, os visitantes podem tratar a obra como "um objeto ou lugar - real ou virtual" 


Como se não bastasse, no andar de cima da galeria havia mais um trabalho do artista. Dessa vez, algo mais familiar e parecido com suas outras obras: uma série de esculturas moldadas no seu próprio corpo. Nove figuras "humanas", nas mais variadas poses, compostas de cubos e retângulos de ferro enferrujado. As formas que compõem esses humanoides variam de tamanho e algumas se projetam pra fora dos corpos, dando ao trabalho um ar de "cubismo 3D". Lindos!



Pra quem não foi, uma notícia triste: a exposição, na White Cube Gallery, era só até ontem.
Mais infos sobre o artista aqui e aqui

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