23 de agosto de 2010

os 13+ de Andy Warhol


Os Screen Tests filmados por Andy Warhol entre 1964 e 1966 são a sua própria contribuição para a profecia dos tais 15 minutos de fama. Durante o período, Warhol produziu cerca de 500 "retratos animados" das figuras que orbitavam à sua volta. O grupo, conhecido como 'Warhol Superstars', era composto de famosos e anônimos frequentadores da Factory, o famoso estúdio/boate/sex & drugs club nova-iorquino onde o artista realizava seus trabalhos.

Apesar do nome, os Screen Tests não se tratavam realmente de testes de video: a idéia por trás do projeto era deixar de lado qualquer estereótipo ou personagem e capturar a verdadeira essência daquelas pessoas.  Os filmetes, mudos e p&b capturados com uma Bolex 16mm, ganham um ar poético quando exibidos em câmera lenta e permitem ao espectador penetrar, por 4 minutos, a alma daqueles sujeitos. O resultado é um retrato íntimo, cru, ora melancólico, mas sempre belíssimo, da juventude dourada, ou melhor, prateada, da Nova Iorque artsy e underground dos anos 60. 

Agora, mais de 20 anos após a morte de Warhol, os Screen Tests estão de volta graças a uma iniciativa do Andy Warhol Museum. No projeto '13 Most Beautiful....songs for Andy Warhol's Screen Tests', 13 video-retratos selecionados a dedo ganharam uma nova trilha desenvolvida pelo duo Dean & Britta (mais conhecidos pela banda de indie pop, Luna). A maioria das canções foi escrita específicamente para cada personalidade, com as letras fazendo referência a episódios das suas vidas ou simplesmente ao clima de seu video. As poucas que não são criações próprias, são covers que, de alguma maneira, estão relacionadas àquela figura. O fato é que a trilha agrega ainda mais valor e significado a esses fragmentos de tempo e espaço preservados, tornando a experiência ainda mais intensa. 

Recentemente tive o privilégio de assistir a uma apresentação dos filmes em uma tela de cinema, acompanhados pela banda executando a trilha ao vivo. Foi uma das melhores coisas que vi desde que cheguei em Londres! Poder observar todos os detalhes e expressões de um rosto durante 4 minutos é, além de muito interessante, altamente hipnotizante. Quando, antes de começar, ficamos sabendo de parte da história e da vida daquele rosto, essa experiência, já encantadora por sí só, fica ainda mais rica (dos 13 selecionados, por exemplo, 5 morreram aos 20 e poucos anos. essa informação muda completamente a percepção dos seus videos). Agora, quando além de tudo, esses rostos são captados com uma fotografia arrebatadora à la expressionismo alemão, realmente fica difícil de colocar em palavras o quão foda e emocionante é o projeto.

Abaixo, o clube dos 13. Quem quiser saber mais sobre o projeto, pode comprar o DVD (que ainda traz imagens de making of e depoimentos). Enjoy!

Ann Buchanan
Seu video foi catalogado como "The girl who cries a tear". Ann fazia parte da cena beat e chegou a dividir um apê com Neal Cassady e Allen Ginsberg (Música: Ann Buchanan Theme).

Paul America
Ficou conhecido assim por estar hospedado no Hotel America (seu nome real era Paul Johnson). Foi descoberto em uma boate e acabou atuando no filme 'The Hustler', dirigido por Warhol. Acabou preso por porte de drogas. (Música: Teenage Lightning (and Lonely Highways) - my favorite!).

Edie Sedgwick / Billy Name (só achei video com os 2 juntos)
Edie: Pobre menina rica da Califórnia, conheceu Warhol em 1965 e estrelou vários de seus filmes. Foi sua it girl durante aquele ano (até o cabelo era igual ao dele), mas acabaram brigando e nunca mais trabalharam juntos. Morreu de overdose de remédios aos 28 anos (Música: It don't Rain in Beverly Hills).

Billy: Fotógrafo e light designer dos filmes de Warhol até 1969, incluíndo os screen tests. Seu apartamento foi a inspiração para a decoração prateada do estúdio de Warhol. Viciado em anfetamina. Segundo Warhol, suas fotografías foram as únicas que se aproximaram de capturar o verdadeiro espírito da Silver Factory (Música: Silver Factory Theme).

Susan Bottomly
Tinha apenas 17 anos quando chegou à Factory, em 1966 (mesmo ano do screen test). Modelo, recebeu o codinome International Velvet. Estrelou alguns filmes de Warhol, entre eles The Chelsea Girls (Música: International Velvet Theme)

Dennis Hopper
O já consagrado ator era fã do trabalho de Warhol e foi um dos primeiros colecionadores a adquirir uma das Campbell Soup Paintings do artista. Colaborou com Warhol em alguns outros trabalhos como uma aparição no filme 'Tarzan and Jane Regained...Sort Of', onde aparece só com uma sunga de oncinha (Música: Herringbone Tweed)

Mary Woronov
Estudante da prestigiada universidade de Cornell, começou a atuar nos filmes de Warhol em 1965. Ficou famosa como dominatrix no espetáculo multimídia do artista entitulado 'Exploding Plastic Inevitable'. Seguiu carreira como atriz e escritora, aparecendo em mais de 100 filmes - entre eles, o cult movie 'Rock n Roll High School' (Música: I Found It Not So)

Nico / Freddy Herko (again, só achei video com os 2 juntos)
Nico: Modelo e atriz alemã, conheceu Warhol em Paris em 1965. Sua colaboração mais notória com Warhol foi a breve participação como vocalista da banda Velvet Underground. Teve affairs com vários famitosos, incluindo Brian Jones e Bob Dylan, que escreveu para ela a canção desse screen test (Música: I'll Keep It With Mine)

Freddy: Dançarino preferido de Warhol no Judson Dance Theater, era um dos "A-Men" - grupo de frequentadores da Factory viciados em anfetamina. Perdeu o emprego e a casa por causa do vício. Morte emblemática em Outubro de 1964: um dia, doidão tomando banho no apê de um amigo ao som de Mozart, se empolgou tanto com um movimento que começou a dançar pela casa e caiu da janela (Música: Incandescent Innocent)

Richard Rheem
Californiano, conheceu Warhol em 1966 e depois de algum tempo se correspondendo com o artista, largou o emprego e se mudou pra NYC para estrelar em seus filmes. Morou com Warhol e sua mãe durante algum tempo (Música: Richard Rheem Theme)

Ingrid Superstar
Poeta amadora e funcionária de um escritório, a menina de New Jersey foi escalada por Warhol como a substituta de Edie, ganhando o mesmo corte de cabelo e o sobrenome 'Superstar', para que não houvesse dúvida do seu status de it girl. Estrelou alguns de seus filmes. Em 1986 literalmente saiu pra comprar cigarros e nunca mais voltou. Seu corpo nunca foi encontrado (Música: Eyes in My Smoke).

Lou Reed
Líder do Velvet Underground e amigo de Warhol, fez 11 screen tests para o artista. Em 1970 largou a banda e seguiu carreira solo. A música do video é uma versão de uma de suas canções (Música: I'm Not a Young Man Anymore).

Baby Jane Holzer
Socialite e modelo, foi eleita garota do ano 1964 pela 'New York Magazine'. Estrelou em vários filmes de Warhol e em 9 screen tests. Conhecida pelo cabelo cheio e brilhoso que era styled em um salão chique de NYC antes de cada aparição diante das cameras de Warhol. Escovar os dentes nunca foi tão sexy... (Música: Knives From Bavaria)











  


1 de agosto de 2010

tomorrow, in a year

Tomorrow in a Year é, nas palavras dos seus criadores, uma 'eletro-ópera' baseada na vida e obra de Charles Darwin. Parece estranho, e é. Mas é também bem interessante, super bem executado e extremamente inovador. 


Criado pelo coletivo dinamarquês Hotel Pro Forma, o espetáculo audio-visual combina ciência, história natural e filosofia com música e performance. No palco, uma soprano, um ator e uma cantora pop se revezam no papel de Darwin, cantando trechos de suas anotações e cartas escritos durante os cinco anos em que ele trabalhou no livro 'A Origem das Espécies'. Suas impressões sobre as viagens e pesquisas são extremamente poéticas e dão a dimensão exata do encantamento de Darwin com o mundo à sua volta . A saudade da família também é um tema recorrente e rende ótimos momentos - a parte em que ele fala/canta sobre a morte da filha Annie, de apenas 10 anos, é bem emocionante.


A cenografia tecnológica conta com uma base modular que atua como um segundo nível do palco (com os atores em cima) e como fundo para o primeiro nível - painéis verdes luminosos criam um padrão que lembra uma imagem microscópica de alguma molécula verde ou então bambus verdes na horizontal.



O cenário minimalista se baseia muito no jogo de luz e além disso e de um cubo vermelho luminoso, conta apenas com uma tela semi-transparente suspensa sobre essa base. Imagens de natureza (animais e paisagens) ou abstratas (lembrando células, microorganismos, etc) são projetadas e volta e meia recebem desenhos criados com laser, tornando a tela um imenso sketch book digital.




Os atores/dançarinos interagem o tempo todo com o cenário e com as projeções - entrando e saindo, subindo e descendo. Em um determinado momento, o posicionamento do projetor (atrás da tela) gera uma inversão de papéis: os atores viram as sombras de suas sombras. Ou melhor, parecem mais fantasmas seguindo as sombras pelo palco.





fotos pescadas daqui


Pra arrematar, a trilha fica por conta do duo eletrônico sueco The Knife formado pelos irmãos Karin Dreijer Andersson (aka Fever Ray)  e Olof Dreijer (colaboraram Mt. Simms e Planningtorock).  Música pop, eletroniquices experimentais, sons ambientes (capturados nas geleiras da islândia e na floresta amazônica), árias e poesia foram misturados para compor as 16 músicas que conduzem o espetáculo. O som, ora orgânico ora robótico, dá a deixa para uma coreografia igualmente experimental, que parece composta por uma série de espasmos e movimentos involuntários coordenados.

Duas das que eu mais gostei:



The Knife comentando o projeto:

A Roundtable Conversation on Tomorrow, In A Year from The Knife on Vimeo.


Da pra ouvir o albúm todo aqui

O espetáculo tem duração curta (1 hora) então não se torna cansativo. Apesar de achar o final meio repentino e mal resolvido, definitivamente valeu o ingresso. Tomorrow in a Year estreou em Copenhague em Setembro de 2009 e, por enquanto, só passou por Londres e Estocolmo (em Outubro eles se apresentam em Melbourne, Austrália). Mais infos aqui

Dica do Pedro Seiler (who else?...)